SUMÁRIO
1.0
ANTECEDENTES À FUNDAÇÃO
1.1 O Caminho Novo
1.2 As sesmarias e
as antigas fazendas
1.3 A Fazenda do
Pe. Correia e Dom Pedro I
2.0
A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS
2.1 A Fazenda do Córrego
Seco
2.2 Dom Pedro II e
o decreto de fundação
2.3 O mordomo-real
Paulo Barbosa
2.4 O major Júlio
Frederico Köeler
2.5 Petrópolis
cidade
3.0
A COLONIZAÇÃO
3.1 A colonização alemã
3.2 Outros
colonizadores
4.0
PETRÓPOLIS NO IMPÉRIO
5.0
PETRÓPOLIS NA REPÚBLICA
6.0
OS VALORES PETROPOLITANOS
1.0 ANTECEDENTES À FUNDAÇÃO
A Serra da Estrela, onde se encontra Petrópolis,
era praticamente desconhecida pelos colonizadores portugueses nos
primeiros 200 anos de colonização, salvo por alguma expedição exploratória
para tomar posse de sesmarias. Isso, por causa do enorme paredão
montanhoso de mais de 1000m de altura que tinha que ser vencido para se
chegar até lá; e, também, pela presença dos bravios índios Coroados
que habitavam serra acima. Ali não havia atividade econômica.
Somente quando os bandeirantes paulistas descobriram ouro nas Minas Gerais
é que foi aberto o Caminho Novo, em 1704, para facilitar a viagem até as
vilas mineradoras. O caminho era “novo” porque havia um outro, o
“velho”, desde meados dos anos 1600, muito longo e de difícil trânsito,
aberto pelos próprios bandeirantes, constituído de trilhas e picadas até
as minas de ouro.
É impossível pensar Petrópolis, Juiz de Fora,
Barbacena, São João Del Rei e Ouro Preto sem antes pensar o Caminho
Novo. Também não dá para entender Petrópolis sem a subida da
Serra Velha, por onde vieram os nossos pioneiros colonizadores.
Conhecer esses caminhos é conhecer 300 anos da nossa história, que começou
em 1724 quando Bernardo Soares de Proença abriu a variante do Caminho
Novo, passando pelo alto da serra onde hoje está nossa cidade.
1.1 O CAMINHO NOVO
O Caminho Novo faz parte de uma rede de importantes
caminhos do Brasil Colonial aos quais era dado o nome de Estrada Real.
Muitos desses caminhos eram antigas trilhas e veredas abertas pelos
bandeirantes que se embrenhavam pelo sertão, na direção de Minas Gerais
e Goiás, à procura de ouro e pedras preciosas. O mais antigo
deles, conhecido como Caminho Velho, ia de São Paulo, de Piratininga até
Taubaté, subia a Serra da Mantiqueira, passava por São João del Rey e
ia para Vila Rica, Caetés, Sabará. Dali havia extensões para
Tijuco (Diamantina), Jaguará, até a região da Fazenda Meia Ponte, hoje
Pirenópolis, Goiás. Mas quem vinha da capital, Rio de
Janeiro, tinha de ir em uma embarcação até Paraty, subir e descer a
Serra do Mar até Taubaté para encontrar o Caminho Velho e seguir
adiante. Do Rio eram “99 dias de viagem, sendo 43 a pé ou a
cavalo”, conforme descrição do Governador Geral Artur de Sá e
Meneses, que fez a viagem em 1699, para avaliar as possibilidades da
exploração do ouro. Foi após essa viagem que ficou decidida a
abertura de um caminho oficial por onde pudesse ser transportado sob
controle, o ouro extraído nas minas e fosse feito todo o suprimento das
dezenas de arraiais e vilas que iam surgindo em torno da mineração. (3,
p175)
O Caminho Novo foi aberto por Garcia
Rodrigues Paes e levava vinte ou trinta dias de viagem, um terço do tempo
feito pelo Caminho Velho. Ele iniciava num porto do rio Pilar, que
deságua no fundo da baía da Guanabara, subia a Serra do Mar na altura de
Xerém, passava por Marcos da Costa, Paty do Alferes e Paraíba do Sul,
onde havia um Registro para a fiscalização colonial e seguia para as
Minas Gerais, passando por Juiz de Fora e Barbacena. Ocorre que, a
subida do paredão da Serra do Mar, em Xerém, era muito íngreme, onde
muitas vezes, pessoas e mulas carregadas rolavam ribanceira abaixo.
Depois de vinte anos de sofrimento, Bernardo Proença, um rico fazendeiro
da região, se propôs abrir uma nova subida da Serra por antiga trilha de
índios em sua fazenda. Aceita a proposta, Proença construiu o
Porto da Estrela no fundo da baía da Guanabara, onde é hoje a Praia de
Mauá e que se tornou logo numa importante vila, depósito e escoamento de
mercadorias. Esse porto com sua capela em louvor de Nossa Senhora
Estrela dos Mares está hoje em ruínas, mas ainda pode ser visitado.
Ele foi o início da variante do Caminho Novo por onde os tropeiros subiam
a Serra do Mar, atravessando a exuberante encosta da nossa Serra Velha.
Chegando ao Alto, a Variante de Proença seguia em direção à área onde
hoje está situada a Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina,
passando pela fazenda do Córrego Seco, onde, mais tarde, surgiria Petrópolis.
Dali os tropeiros tomavam a atual rua Silva Jardim até o Quissamã.
Para chegar a Corrêas, os viajantes percorriam um trecho que até hoje
tem o nome de Estrada Mineira. Vinha depois Pedro do Rio, Secretário,
Cebolas, até encontrar o Caminho Novo de Garcia Rodrigues Paes em Paraíba
do Sul, prosseguindo, então, até a região das minas de ouro. Em
Barbacena, também há hoje um bairro com o nome de Caminho Novo e uma rua
Caminho Novo, sobre os antigos trechos da histórica trilha.
Segundo o Registro de Paraíba do Sul em 1824, a
cada dia, indo e vindo, passavam em média pelo Caminho Novo 153 mulas dos
tropeiros e 77 pessoas. (4, 1o vol, p. 8) Por ela também
passaram os importantes viajantes-naturalistas dos anos 1800 como Spitz,
von Martius, Saint Hilaire, Walsh, Freireys e muitos outros que, como o
Barão de Langsdorff, queriam conhecer as riquezas do novo país para
informar as possibilidades de exploração aos seus governos.
Bernardo Proença recebeu pelo seu trabalho, uma
sesmaria no Alto da Serra onde hoje está quase toda a cidade de Petrópolis.
Outras sesmarias foram distribuídas ao longo do Caminho Novo e logo a
região se desenvolveu muito. Se ele não tivesse aberto a Variante
do Caminho Novo passando pelo Córrego Seco, todo o desenvolvimento da
nossa região teria acontecido no eixo Xerém-Paty do Alferes-Miguel
Pereira-Paraíba do Sul, que era o traçado original daquela via feita por
Garcia Rodrigues Paes.
Bernardo Proença recebe três homenagens em Petrópolis:
um monumento próximo à Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina, o
nome de uma rua no bairro do Itamarati e o de um conjunto habitacional em
Corrêas. Garcia Rodrigues Paes é lembrado em um monumento em Paraíba
do Sul.
O Brasil, antes desses caminhos não existia como
unidade geopolítica e administrativa. Havia algumas feitorias
explorando açúcar no litoral e outros núcleos urbanos na Bahia,
Nordeste e São Paulo. Esses caminhos ligaram o interior ao litoral,
promovendo uma unificação cultural e de esforços que resultou na ocupação
e no desenvolvimento de uma vasta região onde se instalaram fazendas,
ranchos, pousos e vendas. Data daí, também, o início da nossa
atividade administrativa pública organizada com o emprego de funcionários
para controle da zona mineira, como fiscais, meirinhos, corregedores; a
criação dos “Registros” ao longo dos caminhos; monetarização da
economia, com a criação da Casa da Moeda, das Casas de Fundição e a
formação, enfim, de uma classe média mais sólida, ao lado de outras
como a dos mineradores, artesãos, administradores, comerciantes etc.
1.2 AS SESMARIAS E ANTIGAS FAZENDAS DA REGIÃO
As primeiras sesmarias distribuídas no “sertão
de serra acima do Inhomirim” pelo governo português datam de 1686 a
algumas pessoas que, no momento, se destacavam na vida política e na
segurança da Colônia. Mas devido à presença dos índios Coroados
e das dificuldades de subir a serra, somente com o Caminho Novo e com a
concessão de novas glebas a sesmeiros, a atividade econômica desenvolveu
a região. Quando Petrópolis foi fundado 130 anos depois, já havia
um grande número de fazendas e alguma atividade industrial entre a baia
da Guanabara e Vila Rica, conforme descreve o Barão de Langsdorff no
primeiro volume de seus diários. Assim, o trânsito pelo Caminho
Novo era muito grande. Na região onde seria fundado Petrópolis, as
fazendas mais importantes eram:
· Fazenda do Rio da
Cidade, na Estrada do Contorno.
· Fazenda do Pe. Correia, em Corrêas.
· Fazenda do Córrego Seco, cuja sede era
onde hoje está o Ed. Pio XII (Rua Marechal Deodoro, no Centro Histórico).
· Fazendas Quitandinha, Samambaia, Retiro
de São Tomás e São Luiz, Itamaraty, Secretário, que depois deram seus
nomes aos bairros da cidade e dos distritos.
· Fazenda da Engenhoca, onde hoje está a
Estação de Transbordo de Corrêas.
· Fazenda Mangalarga e Fazenda das Arcas,
em Itaipava.
· Fazenda Sumidouro, em Pedro do Rio.
· Fazenda Santo Antônio, na estrada Philúvio
Cerqueira (Petrópolis – Teresópolis).
· Fazenda das Pedras, na Serra das Araras.
1.3 A FAZENDA DO Pe. CORREIA e D.
PEDRO I
Antônio Tomás de Aquino Correia, filho de Manuel
Correia da Silva, nasceu no Rio da Cidade em 1759, estudou na Universidade
de Coimbra e foi ordenado em 1783, passando a ser conhecido como o Padre
Correia. Transformou sua propriedade na mais progressiva fazenda da
Variante do Caminho Novo, citada por todos os viajantes estrangeiros que
por ali passaram quando o Brasil abriu seus portos ao comércio
internacional. Em 1829, o viajante inglês Robert Walsh cita em seus
diários que lá tomou um excelente suco de pêssego. Refere-se também a
plantações de café, mostrando dessa forma a importância da fazenda.
A casa grande da fazenda era enorme, com varanda na frente e muito bonita.
Havia uma capela consagrada a Nossa Senhora do Amor Divino, cuja imagem
está atualmente na igreja de Corrêas. Esse conjunto arquitetônico está
preservado até hoje como um dos mais antigos e valiosos monumentos
coloniais petropolitanos.
O Padre Correia criava gado mais para corte do que
para o aproveitamento de leite. Como o clima era propício havia o cultivo
de cravos, figos, jabuticabas, uvas, pêssegos, marmelos, milho e maçãs
e outras frutas de origem européia. Mas a principal atividade do
Padre Correia era cultivo de milho e a fabricação de ferraduras para
atender à enorme demanda exigida pelas dezenas de tropas diárias que
pernoitavam na Fazenda. Lá também, existiam muitos escravos. O
Padre Correia foi um dos grandes senhores de terra da região
petropolitana. D. Pedro I esteve na fazenda em março de 1822 e retornou várias
vezes passando a ter grande admiração por aquele local. O Padre
Correia faleceu em 1824, com 65 anos, de morte repentina, provavelmente
problemas cardíacos, tendo Da. Arcângela Joaquina da Silva, sua irmã,
herdado a fazenda.
2.0 A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS
A fundação da cidade de Petrópolis está
intimamente ligada ao Imperador D. Pedro I e ao Pe. Correia. Desde
que o Imperador pernoitou na fazenda do padre, de passagem pelo Caminho do
Ouro que o levaria às Minas Gerais, ficou encantado com a exuberância e
amenidade do clima. Foi seu desejo então, adquirir a
propriedade para seu uso e, em especial, para o tratamento de sua filha,
Princesa Dona Paula Mariana de cinco anos, sempre muito doente e que
se recuperou bem quando lá esteve.
2.1 A FAZENDA DO CÓRREGO SECO E A FUNDAÇÃO DE
PETRÓPOLIS
Dom Pedro I sentia a necessidade de construir um palácio
fora do Rio de Janeiro, pois recebia muitas visitas da Europa não
habituadas ao calor tropical. Construir um palácio na fazenda do Padre
Correia seria muito oportuno pelo excelente clima da região que agradaria
aos visitantes estrangeiros. Consciente ou inconscientemente,
incomodava também ao Imperador, residências muito mais luxuosas que os
seus palácios, todos eles muito simples. Um palácio de verão
serra acima poderia ser mais qualificado para a sua condição imperial.
Além disso, sua filha a princesinha Da. Paula, que tinha sérios
problemas de saúde vindo a falecer prematuramente aos dez anos, passou um
verão na Fazenda do Padre Correia e se sentiu muito bem, repetindo a
estadia muitas vezes. Em 1828, D. Pedro I, agora com sua segunda
esposa D. Amélia, continuava a freqüentar a fazenda com Da Paula.
A comitiva imperial nunca tinha menos de cinqüenta pessoas e Da. Amélia
sentiu que visitas tão avantajadas estavam trazendo muitos problemas para
Da. Arcângela, irmã e herdeira do padre. Pediu, então, a Dom
Pedro que comprasse a Fazenda. O Imperador se entusiasmou com a idéia,
mas Da. Arcângela, alegando questões familiares de herança, não
concordou com a venda. Ela mesma, talvez querendo se ver livre das incômodas
e freqüentes visitas reais indicou a Dom Pedro I uma fazenda vizinha que
estava à venda, a do Córrego Seco, pertencente ao Sargento-Mór José
Vieira Afonso. Assim D. Pedro comprou o Córrego Seco por vinte
contos de réis (5, vol 2, p88), preço considerado muito alto para o
valor real da fazenda. A escritura de compra foi assinada em 1830.
D. Pedro I ainda adquiriu outras propriedades no
entorno, no Alto da Serra, em Quitandinha e no Retiro, ampliando a área
de sua fazenda. Ele poderia afinal realizar seu sonho de 1822, construindo
um Palácio de Verão. Como enfrentava dificuldades políticas na
capital, desejando que reinasse paz entre a Nação e o Trono, passou a
chamar o seu Córrego Seco de Fazenda da Concórdia, onde pretendia
construir um palácio. Encarregou o arquiteto real Pedro José
Pezerat e o engenheiro francês Pierre Taulois de um projeto que denominou
Palácio da Concórdia, simbolizando a harmonia entre a Nação e o ramo
brasileiro da Casa dos Bragança que tanto desejava. Mas a obra não
foi realizada, pois no dia 07 de abril de 1831, o Imperador foi obrigado a
abdicar para retornar a Portugal. O projeto do palácio e o orçamento da
obra constam dos arquivos do Museu Imperial, infelizmente sem referência
quanto ao local da obra. (6, p.8)
2.2 DOM PEDRO II E O DECRETO DE FUNDAÇÃO
Com a abdicação e morte de seu pai em 1834, D.
Pedro II herda essas terras, que passam por vários arrendamentos até que
Paulo Barbosa da Silva, Mordomo da Casa Imperial, teve a iniciativa de
retomar os planos de Pedro I, de construir um palácio de verão no alto
da serra da Estrela. Era uma vultuosa empreitada que iria consumir
consideráveis investimentos públicos e privados nos anos seguintes, mas
o Império, na década 1840 -50, estava em boa condição financeira, com
o afastamento dos ingleses da nossa economia, com a proibição do tráfego
negreiro que liberava capitais para investir e, principalmente, com o
“boom” do café. O Mordomo já tinha mandado o engenheiro alemão
Júlio Frederico Köeler construir a Estrada Normal da Serra da Estrela
para tornar possível o acesso de carruagens à Fazenda do Córrego Seco,
uma vez que o Caminho Novo era apenas para tropas de mulas.
Paulo Barbosa e Köeler elaboraram um plano para
fundar o que ele denominou “Povoação-Palácio de Petrópolis”, que
compreendia a doação de terras da fazenda imperial a colonos livres, que
iriam não só levantar a nova povoação, mas, também, seriam produtores
agrícolas. Assim nasceu Petrópolis com a mentalidade de substituir o
trabalho escravo pelo trabalho livre. (5, I, p. 13 e 14)
No dia 16 de março de 1843, o Imperador, que estava
com dezoito anos e recém-casado com Da. Teresa Cristina assinou o Decreto
Imperial nº 155 que arrendava as terras da fazenda do Córrego Seco ao
Major Köeler para a fundação da “Povoação-Palácio de Petrópolis”,
incluindo as seguintes exigências:
1- Projeto e
construção do Palácio Imperial.
2- Urbanização de uma Vila Imperial
com Quarteirões Imperiais.
3- Edificação de uma igreja em
louvor a São Pedro de Alcântara.
4- Construção de um cemitério.
5- Cobrar foros imperiais dos colonos
moradores.
6- Expulsar terceiros das terras
ocupadas ilegalmente.
O Major Köeler fez a planta geral da povoação-palácio,
o projeto do Palácio Imperial e, em janeiro de 1845, colocou na Bolsa de
Valores as ações da Companhia de Petrópolis, criada por ele, para a
execução de seus planos e projetos. (5, I p. 15 e II p.253) As ações
da Companhia foram vendidas em quatro meses e dois meses após, a 29 de
junho, começaram a chegar os imigrantes alemães para se instalarem e
começar o trabalho.Com recursos financeiros e mão-de-obra livre, a
construção da povoação-palácio estava assegurada. Além disso, os
governos provinciais de Caldas Vianna, em 1843, e Aureliano Coutinho, em
1845, deram integral apoio ao plano traçado pelo Mordomo Imperial e por Köeler.
O palácio de verão era uma tradição das
monarquias européias. A Casa de Bragança em Portugal veraneava no
Paço Real e no Palácio da Pena, ambos em Sintra. No Brasil, desde
de Dom João VI, a Família Imperial, passava seus verões no Convento
Jesuíta de Sta Cruz, no Rio de Janeiro, tentando, sem muito sucesso, se
livrar do calor do clima de São Cristóvão. Dom Pedro II não
tinha muita simpatia nem pelo Convento nem pela Fazenda de Sta. Cruz.
Em 1850, Dom Afonso, primeiro filho do Imperador, tinha dois anos e a Família
Imperial estava desde o Natal em Sta Cruz, quando, sem motivo aparente, o
menino apareceu morto no seu berço. O monarca ficou desolado e
tomou horror pelo Convento, decidindo nunca mais ali voltar (5, vol II, p.
29 e 47), passando a se interessar pelo projeto do seu mordomo. Ele
conheceu a Serra da Estrela em 1844, quando esteve na Fábrica de Pólvora.
Em 1845, esteve hospedado com a imperatriz, na casa-grande do Córrego
Seco, especialmente preparada desde outubro de 1843 para recebê-lo.
(5, vol II, p.253, 246 e 252)
2.3 O MORDOMO-REAL PAULO BARBOSA DA
SILVA (1790-1868)
Paulo Barbosa nasceu em Sabará, MG. Aos
quatorze anos era cadete e, em 1810, foi promovido a alferes. Como
capitão, foi transferido para o Imperial Corpo de Engenheiros. No ano de
1825, embarcou para a Europa em viagens de estudos. Com a queda de
José Bonifácio, tutor do imperador, o coronel Paulo Barbosa da Silva
passou a ser, por intermédio de uma nomeação, o Mordomo da Casa
Imperial, função que ia desempenhar com grande desenvoltura.
O mordomo Paulo Barbosa, com seu espírito liberal e
ecumênico, era contra a escravidão e prestou relevantes serviços ao Império.
A sua participação na fundação de Petrópolis foi decisiva quando
mobilizou o seu companheiro de arma, o engenheiro Major Júlio Frederico Köeler.
Além disso, foi Ministro Plenipotenciário na Rússia,
na Alemanha, na Áustria e na França, onde, em 1851, foi demitido de sua
função diplomática. Retornou ao Brasil a chamado de D. Pedro II, em
1854, novamente como Mordomo da Casa Imperial, falecendo em 1868.
2.4 O MAJOR JÚLIO FREDERICO KÖELER
(1804-1847)
Júlio Frederico Köeler era germânico da Mogúncia,
no vale do rio Reno, dominada na época pela França de Napoleão, com
suas instituições que valorizavam o mérito e a riqueza em lugar das
convenções e privilégios. (7, p.224) Os hábitos e o refinamento
franceses marcaram profundamente o temperamento do Mj Köeler e orientaram
a sua atuação nos primeiros anos da fundação de Petrópolis.
Ainda jovem, ingressou no Exército prussiano,
chegando a alferes. Em 1928, foi contratado para servir no Exército
Imperial, depois de prestar rigorosos exames perante a Academia Militar do
Rio de Janeiro. Casou-se, em 1830, na catedral de Niterói, com D.
Maria do Carmo Rebelo de Lamare.
Afastado do Exército por questões políticas
quando foram demitidos todos os oficiais estrangeiros não naturalizados,
Köeler foi contratado como engenheiro civil na Província do Rio de
Janeiro. Em 1831, já naturalizado cidadão brasileiro, retornou ao
Exército e, nos doze anos seguintes, realizou importantes obras públicas
na província, uma delas a construção da Estrada Normal da Estrela, que
dava acesso a Petrópolis. Em 1843 arrendou a Fazenda Imperial e
iniciou o seu trabalho na região.
O plano urbanístico para Petrópolis era complexo
porque a cidade deveria ser levantada entre montanhas, aproveitando o
curso dos rios. Ele inverteu o antigo estilo colonial português de
construir as casas com o fundo para os rios que eram utilizados apenas
como esgoto, como na maioria das nossas cidades. Passou a aproveitar
os cursos de água para traçar pelas suas margens as avenidas e as ruas
que davam acesso aos bairros. Outro aspecto relevante no plano foi a
preocupação com a preservação da natureza determinada pelo seu código
de posturas municipais.
Köeler faleceu num trágico acidente durante um
torneio de tiro ao alvo, na Chácara da Terra Santa, de sua propriedade.
Sua curta administração frente à colônia de Petrópolis foi decisiva
para o que foi realizado nos anos posteriores.
2.5 PETRÓPOLIS CIDADE
Como todo povoado colonial, a cidade nasceu de um
curato em 1845, subordinado a São José do Rio Preto e um ano depois, foi
criada a Paróquia de São Pedro de Alcântara, vinculada à Vila da
Estrela. Em 1857, onze anos após, foi elevado a município e
cidade, sem passar pela condição de vila, o que era, na ocasião, inédito.
Mas o Imperador não desejava essa
mudança de status para sua Petrópolis, pois sabia que nessa condição
haveria uma administração municipal interferindo nas suas relações com
a cidade. O Coronel Amaro Emílio da Veiga, deputado na Assembléia
Provincial, depois de duas tentativas sem sucesso por interferência do próprio
Imperador, conseguiu aprovar o seu projeto “...elevando a povoação de
Petrópolis à categoria de cidade, revogando-se as leis em contrário.”
D. Pedro II ficou enfurecido e retaliou, determinando que o Cel. Veiga
retornasse ao Exército, impedindo que ele assumisse a presidência da
Assembléia Legislativa de Petrópolis, para a qual tinha sido o candidato
mais votado nas primeiras eleições municipais. Desgostoso, o Cel.
Veiga pediu a reforma do Exército, afastando-se da vida pública, mas
continuou morando em Petrópolis até falecer alguns anos depois.
Hoje, ele dá nome a uma importante rua da cidade.
3.0 A COLONIZAÇÃO
3.1 A
COLONIZAÇÃO ALEMÃ
Na primeira metade dos anos 1800, as conseqüências
sociais e econômicas da Revolução Francesa, da Abolição da
Escravatura e da Revolução Industrial, resultaram numa difícil condição
de vida para os povos de língua alemão. A população estava
politicamente desiludida e havia discórdia por toda a parte. Ricos
e pobres endividados, o desemprego era grande no Rhur, o coração do aço
alemão, com muitos problemas nas minas de carvão. Salvo os
que viviam da vinicultura, uma parte da população, que, movida pela
esperança de vida melhor, deixou tudo e partiu para as Américas. A
maioria dos colonos que chegou a Petrópolis era natural de aldeias
localizadas nos bispados de Treves e Mogúncia, na Renânia e Westphália,
(Grão-Ducado de Hesse-Darmstadt e no Ducado de Nassau), região
atualmente conhecida pelo nome de Hunsrück, localizada na confluência
dos rios Reno e Mosel.
Em 1837, aportou no Rio de Janeiro o navio Justine
com 238 imigrantes alemães em viagem para a Austrália. Devido aos
maus tratos sofridos a bordo, eles resolveram não seguir viagem,
permanecendo no Rio de Janeiro. O Mj Köeler soube da ocorrência e se
entendeu com a Sociedade Colonizadora do Rio de Janeiro para trazer
os imigrantes para trabalhar na abertura da Estrada Normal da Estrela,
pagando uma indenização ao capitão do navio. Assim, foi dada
permissão aos colonos de desembarcarem no Rio de Janeiro. Estes,
sob as ordens de Köeler, estiveram primeiramente trabalhando no Meio da
Serra, depois foram para o Itamarati.
A segunda leva de colonos foi planejada pelos
presidentes da província João Caldas Viana e Aureliano Coutinho para
trabalhar em obras na província, mas eles acabaram em Petrópolis,
locando no terreno, o plano urbanístico traçado por Köeler.
Foram 600 casais de colonos alemães contratados em 1844, exigindo-se que
fossem artífices e artesãos com experiência.
Treze navios deixaram Dunquerque com 2.338
imigrantes, o primeiro deles chegando ao porto de Niterói em 13 de junho
e o último, em 7 de novembro de 1845, sendo os imigrantes alojados em
barracões ao lado da igreja matriz.(8, p.8) Acertados os trâmites
legais, eles foram transferidos para o Arsenal de Guerra do Rio, onde se
acha hoje instalado o Museu Histórico Nacional, ficando por lá alguns
dias e, então, seguiram viagem pela baía da Guanabara e pelo rio
Inhomirim, até o Porto da Estrela. De lá, para o Córrego Seco,
foram a pé ou a cavalo, com escalas na Fábrica de Pólvora e no Meio da
Serra, onde existiam ranchos para os viajantes.
Muitos dos colonos que deixaram Dunquerque não
chegaram a Petrópolis em conseqüência do mau passadio a bordo e do
surto de febres nos depósitos. Outros, especialmente crianças, não
resistiram à penosa subida da serra e foram enterrados pelo caminho.
O diplomata belga, Auguste Ponthos, em seu livro “Avaliação sobre o
Brasil”, afirma que 252 imigrantes morreram, sendo 56 nos portos ou na
viagem para Petrópolis. (8, p. 83)
Vieram muito mais alemães católicos do que
protestantes. No dia 19 de outubro de 1845, na praça Koblenz, dia de São
Pedro de Alcântara, num altar ornamentado com flores silvestres, o Padre
Luís Gonçalves Dias Correia celebrou uma missa para os católicos e o
pastor Frederico Ave-Lallemant professou um culto para os protestantes. O
Presidente da Província, Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho,
compareceu a essa solenidade, tendo feito um grande elogio ao trabalho dos
colonos.
Foram muitas as dificuldades iniciais. Logo que aqui
chegaram foi necessária a compra de 200 cabras para alimentar as crianças,
já que suas mães não tinham leite, devido às agruras da viagem. Köeler
planejou uma colônia agrícola em Petrópolis sem estudo prévio da
geologia do terreno que resultou no fracasso do empreendimento. Os colonos
abriram estradas, derrubaram matas para a construção de residências e
semearam suas hortas para consumo e foram utilizados nas obras públicas,
retificando os rios, drenando os lodaçais e construindo os prédios da
povoação.
Para os alemães se sentirem à vontade e se
lembrarem de sua terra, Köeler repetiu os nomes das regiões de origem na
Alemanha nos quarteirões da cidade como Mosela, Palatinado, Westphalia,
Renânia, Nassau, Bingen, Ingelheim, Darmstadt, Woerstadt, Siméria,
Castelânia Westphalia e Worms. Além disso, homenageou as diversas
nacionalidades de outros colonos, dando-lhes nomes nos quarteirões:
Quarteirão Francês, Suíço e Brasileiro.
Hoje, os descendentes dos colonos estão por toda a
cidade e seus nomes de família podem ser encontrados no Obelisco do
centro da cidade, nos guias telefônicos e dão nomes a ruas e praças. O
progresso dos colonos alemães dinamizou Petrópolis, contribuindo para o
seu desenvolvimento. O seu trabalho e a sua lembrança fazem parte da
cidade.
3.2 outros imigrantes
COLONIZADORES
Aos alemães, os primeiros colonizadores,
juntaram-se muitas nacionalidades num caldeirão étnico, a princípio,
cada uma fechadas em suas famílias, mas pouco a pouco, se integrando como
também aconteceu em todo o Brasil.
Os portugueses, principalmente açorianos, alguns
antes mesmos dos alemães, vieram para trabalhar na construção da
Estrada da Serra da Estrela, em pedras de cantaria e comércio.
Surgiram em torno da cidade comunidades portuguesas de floricultores.
Os franceses não vieram todos juntos e foram
chegando aos poucos e se dedicaram à alimentação, à jardinagem e à
confecção de peças de serralheria como as cruzes da Catedral de São
Pedro de Alcântara e da Capela de Finados, assim como a inscrição Petrópolis,
assinalando o batismo de povoação.(9, p.37)
No início, os italianos trabalharam na Companhia
Petropolitana de Tecidos, formando uma comunidade com vida própria, quase
independente da cidade. Aos poucos foram se aproximando de outros
grupos. Atuaram também em panificação, distribuição de jornais
e diversas outras. (9 p.37)
Os ingleses se destacaram em hotelaria e
transportes. Também merecem destaque os imigrantes suíços, belgas
e libaneses, completando a formação cosmopolita do petropolitano.
4.0 PETRÓPOLIS NO IMPÉRIO
Durante todo o 2° Reinado, a presença
de D. Pedro II em Petrópolis se destacou, acima de qualquer outra
personalidade, por sua influência, pela constância da sua presença e do
seu amor à cidade. “Fale-me de Petrópolis”, pedia a quem o
visitava no exílio, pouco antes de falecer. Na colonização, os
alemães, que receberam toda a proteção e simpatia do Imperador, sempre
lhe prestaram as maiores homenagens, chamando-o de “Unser Kaiser”
(Nosso Imperador). A temporada de verão na Serra da Estrela
durava até seis meses, de novembro a maio, quando então, a tutela
imperial era transferida para Petrópolis. Desde 1848, somente nos
anos difíceis da Guerra do Paraguai, a vilegiatura serrana do imperador
foi interrompida. Nos dois últimos anos do Império, sua saúde se
deteriorou com os diabetes, a ponto dele se retirar de um espetáculo que
assistia no Hotel Bragança. Os médicos e sua família procuraram
mantê-lo em Petrópolis. Proclamada a República, foi em Petrópolis
que ele recebeu a notícia de seu exílio. Com o Imperador na
cidade, ela se tornava a capital do Império e centro da atenção
nacional.
A cidade se desenvolvia rapidamente,
com forte tendência aristocrática, por força da presença do Imperador
e de sua corte, nas temporadas do verão petropolitano. Nobres, políticos,
diplomatas, grandes senhores e toda sua “entourage”, ricos negociantes
e a intelectualidade da época se transferia para Petrópolis, durante um
semestre a cada ano. Palacetes eram construídos para morada dessa
gente abonada. Quem não tinha moradia se hospedava em hotéis e
casas de família. E a cidade assumia um aspecto elegante.
Muitos desses palacetes, hoje fazem parte do patrimônio arquitetônico do
Centro Histórico da cidade, cuja preservação é imprescindível para o
desenvolvimento turístico e cultural de Petrópolis.
Mas o protocolo da serra era simples,
podendo o Imperador ser encontrado circulando pela cidade de vitória ou
mesmo a pé. Vez em quando, entrava na sala de aula de uma escola e
passava a fazer perguntas aos espantados alunos. Carolina Nabuco
contava que sua mãe viu certa vez, a princesa Isabel saindo de sua casa,
em frente a Catedral, recomendando ao Conde d’Eu: “Gaston, não esqueça
a chave do portão!” (10 p.31)
Sem perder suas características de
veraneio, a cidade se modernizava, acompanhando a tendência geral da
segunda metade dos anos 1800. Alguns sinais dessa modernidade são
descritos a seguir.
· O
renomado ensino de respeitados colégios como o Kopke, o Calógeras, o de
Frederico Stroele, o NS de Sion, o Santa Isabel e as escolas de educadoras
francesas, como as de Mme Dienes, Mme Taulois e Mme Geslin.
· A
construção do Hospital Santa Teresa, inaugurado em 1876, com participação
ativa de Dom Pedro II.
· Irineu
Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, criou a estrada de ferro e a
linha de barcos a vapor, que ligava Petrópolis ao Rio de Janeiro. Essa
viagem começava no Cais dos Mineiros do Rio e ia até o Porto de Mauá,
no fundo da Baía da Guanabara, em pequenos vapores muito confortáveis,
com orquestra e sala de refeições; do Porto de Mauá até Raiz da Serra
usava-se a primeira estrada de ferro do Brasil, em 1854, e daí, em diligências
até Petrópolis pela Estrada Normal da Estrela. Em 1883, foi inaugurada a
Estrada de Ferro do Príncipe Grão-Pará, vencendo a Serra da Estrela em
cremalheira, notável obra de engenharia na época, que substituía as
diligências serra acima.
· Hotéis
para veranistas e visitantes ilustres foram inaugurados. O Hotel
Bragança, que funcionou por quase 80 anos e foi derrubado para a abertura
da rua Alencar Lima tinha noventa e dois quartos, salões de festas, de
bailes e um teatro. Mas havia outros, como o Hotel Suíço, o João
Meyer, ponto de reunião de colonos, o Hotel Europa, que hospedou o
Imperador Maximiliano do México, em 1848 e o Orleans, onde hoje funciona
a Universidade Católica de Petrópolis, na Rua Barão do Amazonas.
· A indústria
de tecidos encontrou fatores favoráveis na cidade como o clima úmido, a
energia hidráulica e a mão-de-obra qualificada. A Imperial Fábrica
de São Pedro de Alcântara, a Companhia Petropolitana, a Aurora, a
Werner, a Santa Helena, a Da. Isabel e a Cometa faziam de Petrópolis o
mais importante pólo têxtil do país.
·
Construção de modernas estradas de rodagem que facilitavam o acesso à
cidade. Entre elas, a Estrada para Paty do Alferes, a atualíssima
Estrada Normal da Estrela que vinha do Porto da Estrela até Petrópolis
(1843) e a União e Indústria que ia de Petrópolis para Juiz de Fora
(1856).
Assim, com sua animada vida social,
Petrópolis competia com o Rio de Janeiro durante todo um semestre por
ano, levando a grande vantagem de oferecer um clima ameno aos seus
visitantes. Em conseqüência, a cidade ostentava um grande número
de primeiros lugares no Brasil, como a Estrada Normal da Estrela, a
primeira estrada de rodagem de montanha, a União e Indústria, a primeira
estrada macadamizada, a primeira cidade totalmente planejada antes de ser
iniciada a sua construção e o primeiro trem a subir uma montanha.
5.0 PETRÓPOLIS NA REPÚBLICA
Com a Proclamação da República em
1889 que resultou no banimento e o exílio da Família Imperial, temia-se
que a cidade fosse ameaçada por retaliações republicanas e perdesse o
seu prestígio. Mas isso não aconteceu. As funções
administrativas passaram a ser exercidas por intendentes nomeados pelo
governador do estado até 1892, quando Petrópolis passou a ser governada
pela sua Câmara, situação que perdurou até 1916, quando foi criada a
Prefeitura Municipal, tendo Oswaldo Cruz como seu primeiro prefeito,
nomeado por Nilo Peçanha.(11, p.34) Internamente, tentando se
alinhar com as novas idéias e apagar as lembranças da Monarquia, os políticos
começaram a mudar os nomes das ruas, substituindo os antigos nomes
imperiais pelos seus novos valores:
Rua do Imperador......Av. 15 de novembro
Rua da Imperatriz.......Av. 7
de setembro
Rua Princesa Isabel.....Rua 13
de maio
Rua de Bourbon...........Rua João
Pessoa, depois Nelson de Sá Earp.
Rua de Joinville...........Rua
Ipiranga
Rua da. Francisca.......Rua
Gen. Osório
Significativos para a cidade foram os
oito anos em que ela se transformou na capital do Estado do Rio de
Janeiro. Em 1893, ocorreu a Revolta Armada em Niterói contra o
governo do Marechal Floriano Peixoto e foram cortadas todas as comunicações
entre o Rio de Janeiro e Niterói. Com a capital do estado ameaçada,
o governo foi transferido de Niterói para Petrópolis, em 1894. José
Tomás Porciúncula era o governador e o retorno só aconteceu em 1902.
O município tinha 29.000 habitantes e até 35.000 no verão, já estava
recebendo energia elétrica e duas surpreendentes modernidades ocorreram
em 1896: bondes elétricos passaram a circular na cidade e aí ficaram até
1939; o primeiro automóvel subiu a serra, um “Decauville”, em 1902,
movido a benzina e não tinha silencioso.
Quando Petrópolis deixou de ser
capital do Estado, pensou-se novamente que a cidade perderia seu prestígio
e ficaria esquecida. Ao contrário, por muitos anos, o
desenvolvimento foi mantido, ao lado da sua vocação turística.
Quando surgia uma epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro muitas
pessoas se mudavam para Petrópolis, que estava livre desses males pela
salubridade do clima.
Os republicanos também se renderam aos
encantos da Serra da Estrela. De 1894 a 1903, o Ministério das Relações
Exteriores praticamente funcionou em Petrópolis, decidindo questões
vitais como a assinatura do Tratado de Petrópolis, que anexou o Acre à
Federação.
Nos anos seguintes, com exceção de
Floriano Peixoto, Delfim Moreira e Castello Branco, todos os presidentes
da República, desde Deodoro da Fonseca até Costa e Silva, veranearam em
Petrópolis. A cidade que antes se transformava em capital do Império,
agora se tornava capital da República com presença de expressivas
personalidades como Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Santos Dumont,
Conde Afonso Celso, Hermes da Fonseca e sua mulher Nair de Teffé, Pandiá
Calógeras, Henrique Lage, Ruy Barbosa, Joaquim Murtinho, Stefan Sweig,
Edson Passos, Eugênio Gudin e tantas outras. Ficou preservado o seu
ambiente culto, aristocrático e refinado. Durante o verão, no início
da noite, a estação ferroviária se transformava num “point” social,
repleta com as famílias esperando a chegada do “trem dos maridos”.
Com eles vinham também as notícias do dia. (1, p.53)
Epitácio Pessoa, em 1920, construiu o
prédio do I° Batalhão de Caçadores, trazendo para a cidade a tropa do
Exército, hoje 32°Batalhão de Infantaria, uma das tradições
petropolitanas. Em 1922, ele construiu o belo prédio dos Correios
em arquitetura neoclássica. Em 1928, foi construída a primeira
rodovia asfaltada do país que ligava o Rio a Petrópolis, que recebeu o
nome de Washington Luiz, uma homenagem ao presidente que teve essa
importante iniciativa para a vida da cidade.
Talvez Getúlio Vargas tenha sido o
presidente que mais se aproximou e se interessou por Petrópolis. Até
hoje, muitos ainda se lembram dele caminhando pelas ruas da cidade, com as
mãos cruzadas nas costas. O Museu Imperial e o Mausoléu dos Imperadores
devem a ele a sua existência. Getúlio Vargas em Petrópolis, na
visão de José Luiz Alquéres, de certa forma, repete a época imperial,
pela concentração e continuidade do poder central durante o Estado Novo,
pela afetividade do povo petropolitano com a família Vargas e pelo trânsito
político que beneficiou seus parentes, como a filha Alzira - qual uma
nova princesa Isabel, sua mulher Darcy e seus aparentados Amaral Peixoto,
João Goulart, Celina e Moreira Franco. Tudo isso contribui para dar
a Getúlio uma aura só superada pelo velho imperador, com o qual,
inconscientemente ou não, procurou se identificar. (10, p.37)
Essa nova “corte imperial” mudou a
cidade. O suntuoso Hotel-Cassino Quitandinha, aberto em 1944, se
tornou conhecido em todo o país e atraiu o jet-set internacional para
Petrópolis. Orson Welles, Errol Flynn e outros, nele se hospedaram.
Com a proibição legal do jogo em 1946, o hotel perdeu o esplendor, mas
até hoje seu prédio, conhecido como Palácio Quitandinha é atração na
cidade.
Depois da década de 50, mudanças
sociais e tecnológicas como a explosão demográfica, a limitação dos
espaços urbanos, o início do processo de industrialização do país,
com as intensas migrações internas de populações marginalizadas, a
cidade se viu envolvida em um processo político populista que a
descaracterizou e permitiu que diversas áreas, inclusive as encostas dos
morros, fossem ocupadas de modo inadequado. Como conseqüência,
ocorreu um violento crescimento da população sem um planejamento urbano
e paisagístico que permitisse a manutenção das condições anteriores
da cidade, o que modificou em profundidade o ambiente, a sua aparência e
a qualidade de vida da população.
A mudança da capital federal para Brasília
em 1961 é uma data significativa para Petrópolis. A modernidade
inevitável e, nos últimos anos, a reestruturação da economia mundial
com a globalização impuseram a Petrópolis a condição de subunidade do
Grande Rio, deixando-a sem vida própria, crescendo sempre o caráter
suburbano de seus moradores, que passam a dividir com outros locais o seu
modo de vida. Em conseqüência, nos últimos anos, implacável e
impiedosamente, lojas e serviços de antiga tradição na cidade
encerraram sua atividade. Alfaiataria De Carolis, Confeitaria
Copacabana, Casa Galo, Ótica Haack, Casa Duriez, Sapataria Schettini,
Padaria Alemã e das Famílias e tantas outras, são saudosas lembranças
para os petropolitanos. Esses comércios foram sufocados pela dominação
abusiva do mercado por redes nacionais de lojas de varejo que se
instalaram em Petrópolis. Isso evidentemente, mudou a identidade
social e cultural da cidade.
6.0 OS VALORES PETROPOLITANOS
A partir de 1960 a cidade não
conseguiu os grandes investimentos que necessitava para se modernizar e
poder enfrentar a concorrência comercial e industrial, cada vez maior.
Houve então a grande mudança de rumo na vida do petropolitano e da sua
cidade, que se voltou cada vez mais, para a sua tradição histórica e
para a urbanização e arquitetura que ficaram de seu passado. E
para a beleza e preservação da sua natureza. A cada dia, novas
mansões e palácios abriam suas portas para visitação. A
Prefeitura de Petrópolis planejou e organizou o setor de turismo e
cultura e uma extensa rede de facilidades foi sendo oferecida ao turista
como informações, eventos, pousadas e hotéis, restaurantes e outras
atrações cheias de requinte e particularidades, capazes de atrair o
interesse do visitante.
Esse patrimônio esteve em parte,
seriamente ameaçado por incorporadores e construtores mais gananciosos do
que desavisados. Mas, em 1979, um grupo de petropolitanos animados,
corajosos e vibrantes com sua cidade se movimentou em torno de entidades
preservacionistas como a APANDE e sensibilizou o presidente João
Figueiredo, conseguindo que fosse assinado o Decreto 80, em 1981,
impedindo demolições e construções que descaracterizavam o Centro Histórico.
E ele atribuiu à cidade o título de CIDADE IMPERIAL. Com apenas
cinco artigos no seu decreto, Figueiredo salvou o que restou da Petrópolis
imperial. Nos anos seguintes, em conjunto com os moradores, a Câmara
Municipal promulgou um bem elaborado código de posturas municipais que
garantiu as tradições e os valores da cidade.
Tanto no Império como na República, Petrópolis se
desenvolveu, sempre estimulado pela presença de pessoas ilustres que
amaram a cidade e aqui passaram boa parte de suas vidas. Muitos
deles estão sepultados em Petrópolis e foram incorporados ao patrimônio
cultural de nossa cidade. Especialmente a sua rica tradição ligada à
Família Imperial brasileira, em particular a figura de D. Pedro II,
passou a ser um valor significativo para a cidade e um forte apelo para
turismo cultural de maior grandeza.
A educação também é um expressivo valor
petropolitano. Os alunos do nosso ensino fundamental público e
privado, sempre se destacaram nas avaliações oficiais, assim como na
vida profissional, os estudantes do ensino superior representado pela
Universidade Católica de Petrópolis e Faculdade de Medicina de Petrópolis.
Para que esses valores histórico-culturais possam
se transformar em riqueza para a cidade, estão sendo feitos grandes esforços
pela iniciativa privada e pelo poder público, com ações diretas como
investimentos na educação do povo, na divulgação e principalmente, na
transformação da consciência dos que vivem em Petrópolis para que se
sensibilizem com esses valores e recebam com toda atenção aqueles que
vierem nos visitar.
Entre as sete cidades imperiais das Américas, Petrópolis
é a que tem mais direito de usar esse honroso título. As outras
cidades imperiais, Ciudad Imperial, no sul do Chile e a Vila Imperial de
Potosi, na Bolívia, que foram as primeiras e receberam seus títulos
concedidos por Carlos V. Dom Pedro I deu o título de Imperial à Cidade a
São Paulo, à Vila Rica, Ouro Preto e a Montivideo, querendo consolidar a
presença militar brasileira na Banda Oriental do Rio da Prata em 1825. Os
regentes de 1831 chamaram uma pequena vila de Goiás de Vila do Porto
Imperial. Finalmente Dom Pedro II preferiu denominar nossa vizinha
como Imperial Cidade de Niterói em 1841. Todas essas concessões foram
rigorosamente legais, concedidas por decretos oficiais. Petrópolis,
porém, entre todas essas, é a que mais tem o direito de ostentar o título
de Cidade Imperial apesar de não ter recebido esse galardão de um
imperador. Nossa cidade nasceu sob o patrocínio e com a proteção de Dom
Pedro II, em terras da Família Imperial. Até a sua morte nosso Imperador
nunca se desligou de sua cidade. Petrópolis é cidade imperial oficiosa,
mas com todo o direito e o orgulho desse título de nobreza.
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